Ozark: 1ª temporada - Crítica com Spoilers
Ozark é uma série de thriller dramático sobre lavagem de
dinheiro e tráfico de drogas distribuída no Brasil pela Netflix. Mais conhecido
até então por interpretar Michael Bluth em Arrested Development, Jason Bateman
é o protagonista, além de ser produtor e de ter dirigido os dois primeiros e os
dois últimos episódios do programa.
Em primeiro lugar, preciso
dizer que essa série é altamente viciante. Quando assisti ao primeiro episódio,
que, aliás, é sensacional, eu senti vontade de não parar até terminar todos os
10 episódios dessa primeira temporada. A trama, cheia de corrupção, intrigas e
conspirações, conseguiu me prender de um jeito que poucas conseguem.
Acredito que tudo começa
pelo roteiro. Ele é realmente é muito bom. Toda a trama central é muito bem
explorada e os personagens são muito bem desenvolvidos. A série consegue nos
apresentar várias nuances desses personagens, o que é muito interessante. Nem
mesmo o Marty (Jason Bateman) é mocinho o tempo inteiro. E isso mostra o quanto
o ser humano é suscetível às tentações do mundo e o que ele é capaz de fazer
movido pela ganância e pelo instinto de sobrevivência.
Também foi muito
interessante analisar, ao assistir aos episódios, o quanto as escolhas dos pais
influenciam seus filhos e moldam os adultos nos quais eles vão se transformar.
É perceptível a mudança de Charlotte (Sofia Hublitz) e de Jonah (Skylar
Gaertner) após saberem da verdade sobre seu pai e da vida que seguiriam a
partir daquela mudança para Ozark.
Também gostei de como foi
apresentado e desenvolvido o relacionamento entre Marty e Wendy (Laura Linney).
Num primeiro momento, você pensa que eles são aquele casal perfeito de
comercial de margarina. Mas, logo no primeiro episódio, percebemos que eles,
assim como tantos outros casais que conhecemos, vivem de aparência e estão
mergulhados em problemas conjugais.
Falando nisso, achei muito
interessante a série ter colocado a Wendy como a infiel da relação e o Marty
como aquele que sempre foi fiel. Geralmente, é o contrário. Sinto que cada vez
mais as séries e os filmes têm mostrado que a mulher não é sempre a vítima, que
ela também comete erros da mesma gravidade que os dos homens. Outro ponto da
série completamente anti-machista foi o fato de o Marty ter perdoado a esposa
por sua traição. As produções costumam mostrar sempre que a mulher perdoa o
homem, mas o contrário dificilmente acontece. A questão não é se perdoar uma
traição é ou não aceitável, mas sim a igualdade de gêneros. Se o homem acredita
que deve ser perdoado por uma traição, ele também deveria estar disposto a
perdoar se a situação fosse inversa.
A série aborda de uma forma
muito legal o coronelismo. Aquele núcleo com a família Snell é muito bom por
isso. Jacob (Peter Mullan) e Darlene Snell (Lisa Emery) são uma representação
perfeita dos latifundiários que comandam pequenas cidades e têm mais influência
e poder do que as autoridades locais. A gente acaba se esquecendo de que ainda
existem cidades em que isso acontece, sendo, geralmente, cidades pequenas como
a de Ozark. Quanto menor a cidade, mais fácil de controlar.
O núcleo da família Langmore
também é muito bom. Mais uma vez é mostrado como as atitudes dos pais são
determinantes para o destino de seus filhos. Os adultos da família Langmore são
delinquentes acostumados a ganhar dinheiro de uma forma fácil e ensinaram seus
filhos a serem como tais. E você vê que, na verdade, esses jovens são tão
carentes da atenção de seus pais que fariam de tudo para agradá-los. Isso fica
evidente no caso da Ruth (Julia Garner), que quase matou o Marty para agradar a
seu pai, que está preso. No entanto, no final, ela acabou tomando o partido do consultor
financeiro, ao perceber que ele era uma pessoa melhor para ela do que sua
própria família.
Achei muito curiosa a
obsessão do agente federal Roy Petty (Jason Butler Harner) em relação a Del Rio
(Esai Morales) e seu cartel de drogas. A princípio, pensei que a fixação dele
fosse em Marty, mas, com aquele episódio de flashback
pudemos entender de onde vinha todo aquele interesse pelo consultor financeiro.
Na verdade, ele só queria chegar até Del. E, para isso, foi capaz até mesmo de
seduzir um homem para conseguir informações, Russ Langmore (Marc Menchaca).
Também cheguei a pensar que ele só fez aquilo para se aproximar do Marty. Porém,
comecei a ter dúvidas quando vi a reação dele após saber que o Russ tinha morrido. Talvez ele realmente gostasse
dele.
E que interessante toda
aquela sequência com o pastor Mason e sua igreja. Ele poderia ter sido
conivente com o tráfico de drogas que acontecia bem debaixo de seus olhos, mas
seus princípios não lhe permitiram isso. Tristes foram as consequências que ele
teve que enfrentar. Será que vão achar o corpo da mulher dele ainda? E será que
vai ser explicado se ele tentou matar o próprio filho naquela cena na praia? A
temporada terminou sem que essas perguntas importantes fossem respondidas
provavelmente para deixar ganchos para a próxima temporada.
A série também nos mostra o
quanto é difícil se desvincular do mundo do crime. Marty, que havia entrado
nesse mundo quando decidiu lavar dinheiro para Del Rio, mesmo após o
assassinato deste por Darlene Snell – aliás, o que foi aquela cena?! – continua
preso a ele, tendo, a partir de então, duas preocupações: o cartel de drogas para
o qual Del trabalhava (ele não era o chefe!) e a família Snell. Isso significa
que ele está numa situação ainda mais desconfortável do que a que estava no início
da primeira temporada.
Quanto às atuações, todas
são excelentes, sem exceção. Mas, sem dúvidas, a de Jason Bateman como Marty
Byrde é a melhor! O ator, que sempre teve destaque em produções de comédia,
mostrou que sabe entregar um papel dramático de forma impecável. É possível
sentir a aflição e os dilemas sob os quais vivem seu personagem somente pelas
suas expressões, o que demonstra o quanto sua performance é boa.
Também gostei bastante da
fotografia da série. Os cenários apresentados, que, aliás, são muito bonitos,
trazem um ar bem bucólico e reforçam o suspense da trama. É como se a qualquer
momento pudesse acontecer algo extremamente inusitado, o que aconteceu bastante
nessa primeira temporada mesmo.
Enfim, eu só tenho coisas
positivas para dizer sobre Ozark. A trama, que é um prato cheio para quem adora
uma história com muito suspense e drama, é extremamente instigante. Além disso,
as atuações são muito boas e a fotografia é linda. Ou seja, tudo nessa série te
induz a querer assistir mais e mais, até terminar todos os episódios disponíveis.
Obs.: Será que teve alguém que não sentiu tanta gastura quanto eu ao assistir às cenas em que Del Rio arranca as unhas do pé do Marty?!
Obs2.: Para aqueles que, como eu, gostaram muito dessa série, podem ficar felizes: ela foi renovada para a segunda temporada! A próxima temporada também terá 10 episódios e, até então, não foi anunciada a data de estreia.