American Gods: 1ª temporada - Crítica com Spoilers
American Gods, adaptação
televisiva feita por Bryan Fuller e Michael Green do livro homônimo de Neil
Gaiman, é uma série fantástica, de todas as formas possíveis!
Somente a premissa da série
já é capaz de nos antecipar o quão incrível ela é. A trama gira em torno de
Shadow Moon (Ricky Wittle), um ex-presidiário que, logo após sair da cadeia, é
contratado pelo misterioso Sr. Wednesday (Ian McShane) para ser seu
guarda-costas. Sem emprego e com sua mulher tendo morrido poucos dias antes de
Shadow ser liberado, ele aceita. O que ele não sabe é que seu novo empregador é
o deus Odin, que se encontra na empreitada de recrutar os antigos deuses para
lutar contra os novos deuses.
Vi muitas pessoas reclamando
que a série é enrolada, e, por ter poucos episódios (são apenas oito), ela
deveria ter mais ação. Eu até que gostaria mesmo de ter visto mais ação nessa
primeira temporada, mas acredito que essa não era a intenção dela. Pelo que
pude perceber, a primeira temporada estava mais preocupada em apresentar
antigos e novos deuses, suas histórias, formando, assim, o pano de fundo da
guerra que está por vir. Isso sem contar na história de Shadow, envolvendo toda
a trama com sua infiel e falecida (porém de volta à vida) esposa Laura Moon
(Emily Browning).
Falando em Shadow, é
impossível não se identificar com ele ao longo da trama. Acredito que somos
todos Shadow (rs). Não digo isso para afirmar que somos descrentes em
divindades, como é o caso dele no início da temporada, mas para afirmar que
ficamos tão perdidos quanto ele no desenrolar da primeira temporada. Vários
deuses, várias histórias, vários planos de guerra, porém pouco é explicado a
ele e também a nós. Talvez essa seja uma das grandes sacadas da série, ou seja,
nos entregar poucas informações para que acreditemos na trama sem saber tudo
sobre ela desde o princípio. A não ser, é claro, que você já tenha lido o
livro, o que não é o meu caso. Aliás, estou pensando seriamente em comprar e
ler logo esse livro – não sei se consigo esperar mais um ano para ter
respostas!
O visual do programa é
simplesmente maravilhoso, alguém discorda? Começando pela abertura, que é sensacional
e muito bem feita, inclusive uma das melhores que já vi! Dá gosto de assistir
às cenas cheias de cores vivas e de planos que mais parecem ter saído de sonhos
bem fantasiosos. Tudo isso alinhado à ótima trilha sonora é um prato cheio para
nos transportar para um mundo em que o surreal é mais comum do que se imagina e
em que a magia está presente em cada detalhe do nosso dia a dia.
A apresentação dos deuses e
de suas histórias também é muito boa. Aquelas cenas de introdução de cada
episódio mostrando como cada deus veio para a América me deixavam sempre com um
gostinho de quero mais. E muito interessante ainda foi ver como cada deus
desempenha seu papel no mundo humano, o que inclui diversas metáforas. Achei
genial a ideia de os novos deuses serem a tecnologia, a mídia e a globalização,
personificados pelo Technical Boy (Bruce Langley), a Media (Gillian Anderson) e
o Mr. World (Crispin Glover). Afinal, é indiscutível o quanto essas coisas são
adoradas e idolatradas hoje em dia, ainda que de forma não tão perceptível,
ainda que apenas através do tempo que se dedica a elas.
Toda a ideia do que é ser um
deus também é muito inteligente. O deus, na série, surge da crença humana e,
quanto mais adoradores possui, mais forte ele fica, chegando a se tornar real.
Dessa forma, quando um deus perde fiéis, quando deixam de rezar para ele ou
adorá-lo, ele se enfraquece; o esquecimento é a morte de um deus, seu fim. A
guerra de que trata o programa é sobre isso. Os antigos deuses, como
Odin/Sr.Wednesday, Czernobog (Peter Stormare) e Bilquis (Yetide Badaki) estão
sendo esquecidos e deixados de lado por conta da influência dos novos deuses no
mundo moderno. Por isso, conforme conclui Odin, é preciso uma guerra contra os
novos deuses para recuperar a importância e o prestígio que um dia tiveram.
Posso dizer com certeza que
o último episódio da temporada foi o que eu mais gostei. Quantas referências
incríveis! Nesse episódio nos é apresentada Ostara/Páscoa (Kristin Chenoweth),
a deusa do equinócio da primavera, conhecida por criar e recriar a vida. Sendo
uma deusa antiga e, portanto, passível de esquecimento quase certo, Ostara fez
um pacto com os novos deuses e ganhou uma roupagem moderna. A deusa só mantém
seu poder e influência no mundo atual porque a Páscoa foi reconhecida como um
feriado cristão, e não pagão (sua verdadeira origem), em virtude de Jesus
Cristo ter morrido e ressuscitado exatamente nesse feriado.
Falando em Jesus Cristo, ele
foi apresentado no sétimo episódio como um homem mexicano que morre com tiros
para salvar um grupo de emigrantes ilegais que tentam entrar nos EUA. Eu fiquei
meio sem entender essa representação da morte de Jesus quando assisti a tal
episódio. Mas, nesse último episódio, Ostara explica por que existem vários
Jesus na festa em sua casa; a deusa diz que cada povo acredita em Jesus de uma
forma diferente, portanto ele se adapta a cada cultura e a cada crença. Achei ótima
essa explicação!
No final desse último
episódio temos um confronto mais explícito entre os antigos e novos deuses no
qual aqueles se saem melhor. E, com as demonstrações de poder que presencia,
Shadow Moon, até então descrente, apesar de todas as coisas sobrenaturais que
já havia presenciado, passa a acreditar nos deuses. O que mais me intriga é por
que Sr. Wednesday precisa tanto do Shadow, ao ponto, inclusive, de ter mandado
Mad Sweeney (Pablo Schreiber) matar a Laura para deixá-lo sozinho e à mercê de
sua proposta de trabalho. Bom, essa é mais uma questão que ficou em aberto para
a próxima temporada, ao lado do destino de Laura e do desenrolar da tão
esperada guerra divina.
Enfim, já disse no início e
volto a dizer: American Gods é fantástica! Apesar de ter um ritmo um pouco
lento, o que incomoda e desanima muitas pessoas, a série vale muito a pena, porque
o visual e os efeitos especiais são incríveis, o elenco é todo muito bom, e, o
mais importante para mim: a história é muito interessante e inteligente, nos
fazendo refletir sobre deuses (quem realmente são e o lugar deles em nossas
vidas), crenças, valores e onde nós nos encaixamos em toda essa história.
Obs.: Eu amei as formar como
a Media se apresenta em cada episódio! Claramente uma clara reverência à
cultura pop.
Obs2.: Aparentemente, o fato
de Laura Moon e Essie MacGowan terem sido ambas interpretadas por Emily
Browning não significa nada. Mas ainda não estou totalmente convencida.