The Discovery - Crítica com Spoilers


The Discovery (A Descoberta), filme original da Netflix lançado neste ano, e dirigido por Charlie McDowell, possui uma premissa muito instigante: um cientista consegue provar, de forma objetiva e contundente, que existe vida após a morte. Quando li a sinopse, fiquei bastante curiosa para saber quais argumentos e quais versões de vida após a morte seriam mostradas em tal produção.

No início do filme, ficamos sabendo que o Dr. Thomas Harbor (Robert Redford) conseguiu comprovar cientificamente que existe vida após a morte. A explicação principal é que a consciência humana seria outra espécie de matéria, a qual existe independentemente da matéria física, assim como várias matérias encontradas no Espaço. Achei esse argumento bem interessante, e de fato alguns cientistas reais já levantaram essa teoria, o que deixa o filme ainda mais próximo da nossa realidade.

Porém, essa grande descoberta feita pelo Dr. Harbor acabou gerando um efeito em massa altamente desastroso e trágico: uma onde de suicídios se inicia após a divulgação dessa descoberta. Dois anos após a descoberta, mais de quatro milhões de pessoas já haviam se matado, tudo para “chegar lá”, conhecer a outra vida. É extremamente interessante e assustador pensar que isso seria mesmo possível caso tal hipótese fosse provada. Se várias pessoas já tiram suas próprias vidas (e vidas alheias) hoje em dia sem ter muita (ou quase nenhuma) certeza do que existe do outro lado, imaginem então se soubessem. Por isso a divulgação de uma descoberta assim é tão perigosa, o que é mencionado e demonstrado no filme várias vezes.

No meio dessa história temos Will (Jason Segel), filho do Dr. Harbor que é contra ele ter revelado sua descoberta justamente pelo efeito que ela causa, e Isla (Rooney Mara), uma mulher adepta à ideia de se matar para chegar ao outro lado. As vidas dos dois se cruzam de forma quase coincidente. Mas no final descobrimos que não é coincidência. Vou dizer que esse casal não me convenceu; o romance entre eles não despertou em mim emoção alguma. 


Gostei muito da ideia da vida após morte que o filme trouxe. Nele, quando a pessoa morre, ela vai para uma versão alternativa de sua própria existência, e nessa versão a pessoa pode consertar erros cometidos nesta vida e, assim,  evitar grandes arrependimentos. É difícil não se comover com essa hipótese e parar para pensar, mesmo que por um instante, nos erros que gostaríamos de desfazer, nas tragédias que poderíamos prevenir.

O filme é bem parado, o ritmo dele é bem lento. Acredito que isso possa fazer com que muitas pessoas parem de assistir e não cheguem até o final, por falta de paciência.

Outra coisa que me incomodou foi a falta de carisma dos personagens. Nenhum deles me cativou ou fez torcer por eles. Talvez essa não fosse a intenção mesmo. Afinal, o foco claramente é o tema tão polêmico que o filme aborda e não os personagens em si.


A reviravolta no final do filme é muito boa. Descobrir que o Will tentava o tempo inteiro impedir que a Isla morresse, mesmo que isso significasse morrer repetidamente, foi muito interessante e bem coerente com toda a ideia do filme. Ou seja, essa história nos diz que não dá para mudar o destino de uma pessoa, que, no caso da Isla, era a morte precoce. Mas é possível fazer uma mudança significativa ao longo do caminho, que, no caso da Isla, foi amar e ser amada por Will. Gostei também da ilustração de déja vù que eles nos apresentam na última cena, dando a entender que Will, em outra versão alternativa de sua existência, se lembra de Isla, embora, em tal realidade, eles tivessem acabado de se conhecer.

Se for parar para pensar, os motivos do Dr. Harbor não são muito diferentes dos de Will. Por causa do suicídio da própria esposa, mãe de Will, ele decidiu dedicar sua vida a descobrir se havia vida após a morte (e como é), para, assim talvez, conseguir algum consolo.

Enfim, trata-se de um filme depressivo, devo dizer. Eu fiquei com aquela tristeza sem fundamento aparente quando terminei de assistir. Acho que a fotografia meio acinzentada/azulada e aquela trilha sonora contribuíram muito para dar esse clima mais pesado ao filme. De qualquer forma, ele é bom. Faz você refletir sobre o tema principal dele, e isso é legal. Mas acho difícil alguém querer assisti-lo mais de uma vez, exatamente por ele ser tão desanimador.

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