Favores que vêm e vão
Quando foi a última vez que você viu alguém fazendo algo em favor de outra pessoa sem esperar nada em troca? Eu ainda me impressiono com o quanto isso é raro atualmente. Ou será que sempre foi assim? Temos uma mania de dizer que antes era bom e hoje é ruim, quando, na verdade, a essência do ser humano sempre foi a mesma, desde o início dos tempos.
O que eu quero dizer é que vivemos num regime intenso de contraprestações. Em regra, a prestação tem sua contraprestação. E, em regra, o favor vem acompanhado de um pedido de favor futuro, seja tal pedido implícito ou explícito.
Um exemplo é o do cara que leva a garota ao cinema. O que faz alguns homens pensarem que, ao levar uma garota ao cinema (pagando ou não pelas despesas do cinema), ela deverá necessariamente ficar com ele? Ou seja, no mínimo, beijá-lo. O curioso é o quanto isso está enraizado em nossa cultura. Quantas garotas vocês conhecem que vão ao cinema com um cara e não ficam com ele? Não estou generalizando motivos, mas fatos. A garota pode ficar com o cara porque verdadeiramente deseja. Aí tudo bem. O problema, em minha opinião, é quando ela se sente no dever de ficar com o cara por ele ter tido a “boa vontade” de levá-la ao cinema ou por ele ter gasto seu precioso tempo ali com ela. Se o cara realmente gosta de você, será um prazer simplesmente estar com você, e ele não colocará pressão em você, esperará o seu tempo e esperará com gosto.
Quando fazemos algo por alguém devemos fazer de coração, sem esperar nada em troca. Uma boa ação praticada para obter algo em retorno perde seu sentido. Faça favores aos outros porque quer, porque seu coração te diz para fazê-los, porque aquela pessoa é especial para você, porque você gosta de fazer o bem, porque os seus princípios te impulsionam a isso. E se a pessoa não te fizer o bem em troca, você não deve se arrepender de ter feito o bem a ela, pois como é bom ser verdadeiro consigo mesmo e não ter a consciência pesada!
O mundo e nós mesmos seremos muito melhores quando nos livrarmos dessas amarras que impomos a nós mesmos e aos outros, e que nos impedem de fazer o bem simplesmente por ser o certo, simplesmente por nos fazer bem.